O Gigas
Quando eu andava no 7.º Ano tinha um colega repetente, um rapaz de 15 anos. Agora que sou adulta, considero um rapaz de 15 anos uma criança, mas naquela época em que eu tinha 12 anos achava-o enorme. A verdade é que ele fisicamente estava muito desenvolvido para a idade, ao ponto dos outros lhe chamarem Gigas que era a abreviatura de Gigante. A alcunha não era depreciativa, antes pelo contrário, pois o resto da turma simpatizava com ele.
Como estava desmotivado, o Gigas portava-se mal nas aulas daqueles professores que não tinham tanto controle sobre a turma que eram a professora de Inglês e o professor de Mecanotecnia e, habiualmente, eu levava por tabela. Uma vez, atirou com o meu casaco para cima da secretária do professor de Mecanotecnia, e creio que não fez pior porque só lá estava metade da turma e dava nas vistas. Nas aulas de Inglês era pior, punha-se a tossir e aos gritos e é óbvio que a professora sabia que era ele, mas ele negava. Certa vez, tentou tirar-me um sapato para o atirar para perto do quadro. Não conseguiu, mas a tentativa só por si já era humilhante.
Ninguém na turma tinha qualquer hipótese contra ele, num confronto físico, mas claro que ele tinha que escolher a criança mais pequena da turma, como bom cobarde que era.
Um dia fartei-me, desenhei a cabeça e o pescoço de um pato no meu caderno, escrevi Pato Desgraçado e disse-lhe que era ele. Aquilo não era muito ofensivo, mas como ele reagia mal à frustração ficou furioso e tentou apertar-me um braço. Felizmente, ainda havia algum respeito pelos professores porque ele não insistiu.
No final do ano letivo, ou no início do seguinte, não me lembro bem, ele desistiu da escola e foi trabalhar para uma fábrica na Alemanha, para minha alegria !