O Fulano de Bigode
Em 1996 fui a uma loja de animais e comprei um coelho anão.
O coelho fazia muitas patifarias, como não podia deixar de ser. Uma vez, roeu o fio do telefone e ficámos sem telefone.
Ao princípio, comia ração própria para coelhos mas depois só queria pão, banana e espinafres. Tentei dar-lhe cenoura mas recusava e, mais tarde, tive outro coelho que também não gostava de cenoura. Está visto que os coelhos anões não gostam de cenouras.
O animal era muito meigo e passava horas a lamber-nos. Ao contrário dos gatos, que têm a língua áspera, a dos coelhos é macia.
Era engraçadíssimo, por exemplo, ver o meu pai a ressonar e o coelho em cima da barriga dele a subir e a descer com o movimento da respiração e com as orelhas espetadas, surpreendido pelo som.
Um dia, ficou doente e levámo-lo ao veterinário que abriu na nossa rua. A primeira coisa que a veterinária disse foi :
- Não é um coelho, é uma coelha.
Comentário do meu pai :
- Ah, já estou mais descansado porque pensava que tinha um fulano de bigode a dar-me beijos na boca.