A Vingança das Carochas
Num dia de verão como tantos outros, há uns 20 anos atrás, fui à praia com os meus pais na Ilha da Armona que fica em frente a Olhão.
A ilha tem um extenso areal na parte detrás e creio que era um dia de semana e, por isso, praticamente só lá estávamos nós. Lembro-me de ver duas ou três pessoas na água, mas não no areal.
Os meus pais foram dar uma volta e eu fiquei sozinha, estendida na toalha. Olhei para o lado esquerdo e vi uma carocha a vir direita a mim. Atirei-lhe com uma mão cheia de areia para a fazer mudar de direcção que é o que normalmente acontece. Olhei para o lado direito, e vi outra carocha que também se aproximava a grande velocidade. Dei-lhe o mesmo "tratamento" de areia e virei a cara. Qual não foi a minha surpresa ao ver a 1.ª carocha, já recomposta, e de novo decidida a vir ter comigo. Nesse momento, desconfiei que algo estranho se passava. As carochas costumam evitar os humanos e, quando levam com areia em cima, mudam de direcção, não insistem. Passei a ter como objetivo não as deixar aproximarem-se e, felizmente, elas só vinham do lado das dunas e não do mar e seriam no máximo umas duas ou três, não era um exército.
Entretanto, os meus pais voltaram e eu expliquei a situação. O meu pai sentou-se ao meu lado e tapou-me o campo de visão, por isso, pedi-lhe para estar atento. O tipo não ligou nenhuma e passado um bocado :
- Ai, a carocha mordeu-me !
- Pai, eu disse-te para não as deixares aproximarem-se.
Ele continuou a não se preocupar com o assunto e, de vez em quando lá soltava outro "ai".
Acabámos por arrumar as coisas e ir embora.
Nunca percebi porque é que as carochas tiveram aquele comportamento. Teriam fome ? Não gostaram de ver o seu espaço invadido ? Seria uma época do ano em que estão mais agressivas ? Não faço ideia, em todo o caso nunca tinha visto aquele comportamento nelas nem nunca mais voltei a ver.