1.º Dia : O Biquíni
Tudo muito calmo até à hora do almoço.
Estava a meio da refeição quando apareceu a psicóloga para falar comigo e com outra senhora. Insistiu que tinha de ser naquele momento, e que depois terminávamos a refeição.
Estivemos a conversar e, no fim, voltámos à sala. O almoço tinha desaparecido porque uma auxiliar levantou a mesa.
Quando acabei de lavar os dentes, apercebi-me que me tinha esquecido de levar o fio dentário. Revirei a mala, remexi em todos os compartimentos, não fosse ter guardado o raio do fio num deles.
A única coisa que encontrei foi um biquíni. Ainda me lembro da última vez que o usei : http://notadissonante.blogs.sapo.pt/um-pato-na-praia-8195
Serve de muito um biquíni no hospital.
2.º Dia : Incompleta
Fiquei assustada assim que me vi na sala de operações. Para piorar não davam com a veia.
Quando acordei sentia imensas dores. Também sentia comichão na cara. Nem pensar usar o braço do lado em que a mama foi amputada, mas julguei que podia usar o outro. Infelizmente, assim que tentei mexer um dedo, as dores no local da amputação eram tão fortes que desisti. Só pensava :
- No que é que eu me fui meter com a história da reconstrução. Mesmo que tudo corra bem vou ter de ser operada, pelo menos, mais uma vez.
Ao fim do dia, vi o meu corpo e senti-me incompleta.
Quase não dormi porque detesto dormir de barriga para cima e doiam-me ambos os braços, por isso era impossível virar-me de lado.
3.º Dia : Veias
Assim que me tocavam no braço, eu gritava.
As minhas veias não estavam a aguentar o cateter nem os medicamentos.
Optaram por administrar os analgésicos por via oral e apenas os antibióticos através da veia, mas mesmo assim doía imenso.
Explicaram-me que as veias ficaram fragilizadas devido à quimioterapia.
Os meus batimentos cardíacos estavam muito acelerados, creio que teve a ver com o stress e o facto de não ter dormido.
4.º Dia : Sozinha
As outras duas senhoras que estavam no mesmo quarto que eu tiveram alta e fiquei sozinha.
A dor nos braços melhorou e passei a tolerar a administração de medicamentos por essa via.
5.º Dia : Fui Expulsa
Falei com as gatas , pelo telefone, para elas não pensarem que as abandonei.
Fui, em roupão, a um café no jardim do hospital.
- Menina, não pode estar aqui. São regras do hospital.
- Mas eu não tenho nada contagioso - Respondi ao rapaz.
- Pois, mas são regras.
Ok. Nunca tinha sido expulsa de lado nenhum.
A médica informou-me que me iam dar alta na segunda.
Jantei sozinha na sala. Algumas das outras doentes tiveram alta e outras foram operadas e jantaram nos quartos.
6.º Dia: Tédio
Tirando que levei com antibiótico na veia, de tantas em tantas horas, não se passou nada. Que seca !
7.º Dia : De Novo as Veias
O pequeno-almoço foi às 9h40 porque só estava uma auxiliar de serviço. Eu estava quase a desmaiar de fraqueza.
As enfermeiras picaram-me novamente o braço à procura de uma veia que aguentasse o cateter, mas eu estava nervosa e as veias contraiam-se.
8.º Dia : Saída Difícil
Disseram-me que me davam alta, por isso arrumei as minhas coisas.
Passado um bocado, informaram-me que afinal só tinha alta amanhã. Voltei a colocar tudo no lugar.
Um pouco depois, a enfermeira informou-me que sempre me iam dar alta.
Vi a médica e perguntei-lhe :
- Então mudou de ideias doutora ?
- Não. É que fiquei a saber que a cirurgia plástica lhe deu alta e o meu parecer estava dependente deles.
E aqui estou eu de volta.