Na Feira da Ladra
Quando eu tinha 16/17 anos costumava ir vender para a Feira da Ladra porque os estudantes tinham permissão para vender naquela feira. Não sei se ainda têm.
Aos sábados, por volta das 5 h da manhã, acordava e ia ter com umas amigas minhas que eram irmãs e lá íamos as três com objectos para vender. Pelo que me lembro eram só roupas e anéis velhos e uma vez vendi uma mala da escola. Por volta das 11 horas já tínhamos vendido tudo e tínhamos uns trocos nos bolsos.
Numa dessas vezes, calhou ficarmos ao lado de um velhote que teria uns 70 anos e, enquanto nós vendemos tudo rapidamente, o velhote não vendeu nada. Ele estava sentado num banquinho portátil a vender tomadas e fios eléctricos, pilhas, um rádio...
Então resolvemos ajudar o velhote. Uma de cada lado, começamos a chamar as pessoas :
- Comprem, comprem as coisas do avozinho !
As pessoas começaram a juntar-se ali à volta a fingir que estavam muito interessadas nos objectos, mas o que queriam era perceber a situação, até que houve um homem que perguntou :
- Mas elas são mesmo suas netas ?
- Não são nada, estão só a chatear-me !
E eu com um tom magoado :
- Ó avô, como é que é capaz de dizer uma coisa dessas !?
O que é certo é que ele lá conseguiu vender um artigo ou outro. Entretanto, passou um senhor e mostrou-se interessado no rádio que o velhote estava a vender, mas disse :
- Eu não lhe dou mais que três contos porque esse rádio já foi mexido por dentro.
- Não foi nada mexido, que disparate ! - protestou ele.
- Então o senhor está a chamar mentiroso ao avozinho !?- perguntei eu com um tom indignado - o avô não é mentiroso !
O homem foi-se embora, mas de vez enquanto voltava com a mesma conversa.
No meio daquilo tudo, um homem jovem reparou que um dos artigos era uma caixa de preservativos ( com a embalagem muito danificada, ainda por cima ) e disse que aquilo não servia para nada ao velhote...
Como o velhote estava sempre a protestar connosco acabámos por desistir de o ajudar e fomos dar uma volta pela feira, mas que foi cómico, foi.