Barbas de Milho
Ontem fui fazer uma ressonância magnética.
Chamaram-me rapidamente e a enfermeira bateu-me nas mãos para fazer sobressair as veias. Eu tirei a mão, foi instintivo, mas ela lá acabou por dar com a veia e, pelo menos, não me senti mal.
A enfermeira referiu-se a mim duas vezes como "esta jovem". Achei piada porque ela parecia ser da minha idade ou até mais nova.
Era suposto eu só ir fazer a ressonância, mas a médica também quis que eu fizesse uma mamografia.
Depois dos exames a médica veio falar comigo e disse-me que isto ainda cá está ( sim, eu sabia, continuo com dores ), e que está mais pequeno ( eu também sabia porque já não sinto quando apalpo ), mas acrescentou que se dividiu em dois tumores. Como vou ser operada, vão retirar o que restou.
Após este diálogo, fiquei mais 30 minutos à espera que me tirassem o cateter. Não refilei apesar de estar sem comer desde as 10 h da manhã, mas estava outro utente, um senhor já com alguma idade, a dizer que tinha pressa porque ia fazer 3 horas de viagem para o Algarve.
Então o senhor é algarvio e tem de vir a Lisboa fazer uma ressonância magnética !? Estive para lhe fazer perguntas porque estava mesmo curiosa, e tempo foi o que não faltou, mas não sou de meter conversa.
Já em casa, enquanto o jantar estava ao lume, seguiu-se este diálogo entre mim e o meu marido :
Eu : Estou farta da cabeleira e atirei-a para o lixo.
Ele : Então ?
Eu : Aquela porcaria só me incomoda e já não a quero.
Ele : E agora ?
Eu : Ando com a cabeça a descoberto, sei lá.
Ele : Ou usas um lenço.
Eu : Sim, tanto faz.
Ele : Mas aquilo custou 160 €.
Eu : Pois só se eu a lavar, mas deve estar muito suja das cascas de ovos. Vê lá o que achas.
Ele ( depois de olhar para o caixote do lixo ) : Esquece !
Eu : Ah ! Ah ! Ah !
Ele : Eu bem que desconfiei que era brincadeira.
Eu : É o chá de barbas de milho que passou da validade.